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BULLYNGAR.

Museu das Emoções
4 min readJan 4, 2022

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Não querendo ser repetitivo, vou falar alto para a minha companhia de momento. Do meu lado direito, o panda e a coruja do Harry Potter. Do lado esquerdo, a girafa. Ao meu colo, a gata Luz, esta a única além de mim, que o coração bate.

Caros e caras amigos, desculpem. Caras e caros amigas, desculpem. De tantas efémeras ideias ou ideais, fico-me pelo: Olá.

Estamos reunidos aqui no meu quarto para discutirmos em conjunto, o tema “Bullying” ou se quiserem “Agressões verbais, físicas e psicológicas” ou ainda, “Levar na Boca” ou talvez “Não quero saber”. Se formos a percecionar as várias formas que escrevi do nome a dar ao tema, percebemos que viajamos no tempo. E não assim tão longe.

Ora vamos fazer um exercício ao contrário: “Trabalhar no campo”, ou “Brincar na Terra” ou se quiserem, “Brincar ao pião ou ao elástico”, ou melhor, “Brincar ao Monopólio”, ou ainda “Brincar à apanhada”, ou “Ver televisão” ou talvez “Jogar consola”, será que “Exercitar os polegares no telemóvel”, hummm, acho que “Estar sozinho com muita gente à nossa volta” (frase escrita pela C, de uma escola sobre o que sentia quando estava em casa).

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A brincar, viajamos no tempo e cruzámos linhas interessantes e que justificam muito sobre este tema. Pessoas mais sozinhas, mais suscetíveis a sentirem tristes, mais frágeis e por isso, menos resilientes à manipulação, opressão, e outros, acabados em “ão”.

“Não estará a infância em vias de extinção? E se não está em vias de extinção, pelo menos, a infância já não é o que era!”, Paulo Moreira, “Para uma prevenção que previna”, Quarteto, 2005.

Hoje, passados 17 anos, este pedagogo, um dos pioneiros em Portugal sobre a prevenção, já falava de coisas sérias mas a brincar. A brincar pois não houve quem lhe desse importância. Temos visto muitas noticias na televisão, rádio, jornal, internet sobre projetos na área do desenvolvimento pessoal, emoções, competências pessoais e sociais. Então nos dois últimos dois anos, além de vermos, ouvimos gente intelectualmente evoluída a dizer que temos que apostar na saúde mental, no bem estar das crianças e até na sua felicidade. Temo que o Covid venha servir para alimentar egos.

Ora vejam o que em 2005, Paulo Moreira dizia: “As crianças frequentam cursos de computadores, de línguas estrangeiras, etc. Alguém conhece um curso para ajudar as crianças a saberem lidar com os seus sentimentos, a tomar decisões, a gostar mais delas próprias? (mesmo livro, mesmo ano, mesmo autor).

Eu diria mais: e cursos para promover a autoestima, a confiança, a resiliência, a capacidade de dizer “não”, a oportunidade de aceitar que se está frágil, o dizer que ser frágil não é ser fraco, o de que pedir ajuda não é um ato de fraqueza. E uma espaço para pais para poderem ser orientados nas suas dúvidas para que permitam os filhos tentarem vezes sem conta (eles não erram, apenas tentam), que os filhos possam gostar de amarelo em vez do azul, que os filhos possam querer ser floristas e não médicos, que um número numa pauta não é o maior tesouro nem o maior falhanço, que os pais possam escutar e dar vós às questões, que os pais possam ter a oportunidade de não comprar palavras tipo “bullying”, “sucesso”, “ser alguém”, que os pais tenham a capacidade de ser em primeiro pessoas e só depois pais, que os pais não vejam os filhos como objetos e que sim, os filhos muitas vezes “esbardalham-se” no chão e isso, além de arranhões e sangue, faz crescer. Ah e que não existe culpa. Existe responsabilidade.

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Mas qual era mesmo o tema? Ah, era o tal Bullying.

Este tema é transversal ao crescimento de qualquer pessoa. Seja criança, jovem. Adulto ou idoso. Quantos idosos são mal tratados e não se dá esse nome pomposo? Não é preciso. É agressão. E já é muito!

Precisamos com urgência de encarar esta problemáticas de forma distante mas focada, ou seja, escutando os sinais, olhando o meio que nos rodeia, sentando “à mesa” os vários intervenientes, dando o exemplo, sendo pais mas também pessoas. E depois, agir. Não podemos ter ao primeiro ou segundo ato de “deu uma palmada”, “estragou o lápis”, o uso de rotular algo que pode não ser. E também pode ser que quem se deixou “dar a palmada” e “deixou estragar o lápis” precisar de ser elogiado em outras áreas pois talvez ai, os tão chamados Bullis, deixem de os incomodar porque pelos dados que temos disponíveis, não vemos crianças, jovens, adultos ou idosos felizes, emocionalmente estáveis, a sofrerem dessa palavra chata.

Porque será que de todos os seres vivos do planeta, somos os únicos que não empurram os filhos para fora do ninho muito cedo? Dizem que é porque não sobreviveríamos muito tempo. Todos os outros seres tem uma elevada taxa de possibilidade de sobreviver.

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Nós, pessoas, exageramos. Não podemos olhar os nossos filhos como se eles estejam sempre no ninho. Nem tanto à terra, nem tanto ao mar. O ato de um pássaro ao empurrar o seu filhote para fora do ninho no cimo de uma árvore, é um ato de amor e coragem.

Não é Bullying.

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Criativos Indisciplinados. Procuramos dentro de nós a leveza das palavras e emoções. Partilhamos a arte de expandir o pensamento...