SOFRER.

Museu das Emoções
3 min readSep 27, 2021

Devemos sofrer? Porque sofremos? Devemos deixar o coração ficar pequenino de tanta dor? Devemos recolher a nossa alma de tal forma que quase desaparecemos? Devemos recusar sofrer? Dizer a nós mesmos que somos fortes?

Hoje, uma pequena criança de 9 anos após estarmos a falar sobre morte, perda, ficou indignada. O assunto era sério. Falava de alguém importante para a turma. Pairava um misto de alegria, tristeza. Divertimento e seriedade. Os corpos das crianças mexiam anormalmente de um lado para o outro. Seria a ansiedade a brincar com as suas emoções? Talvez. A impaciência também por lá andava. A rodeá-los. Sem eles perceberem. A pergunta deles era “Porque aconteceu?”. Não a eles. A pergunta surge depois de eu ter questionado sobre o que a pessoa que está a sofrer, estaria a pensar e a sentir. “Porque aconteceu.”. As crianças são assim.

Mas voltemos à indignação. A determinada altura, eu disse e passo a citar “É bom sofrer. Devemos deixar as pessoas sofrerem.”. Aquela criança olhou para mim com misseis nos olhos e disparou. Não disparou. Ficou indignada. Os restantes colegas acho que ficaram… “vamos ver o que ai vem…”. E veio. A explicação.

Tentei de uma forma muito simples, usando a comparação entre o doce e o amargo, que eles sentissem que sentir dor, sofrer, é o oposto de alegria, felicidade. Que para sentirmos e conhecermos as emoções e sentimentos, por vezes, temos que sentir o amargo de algo, para valorizar o doce de um outro algo. No geral, penso que entenderam. Reforcei a ideia que o sofrimento é a oportunidade de chorarmos, gritarmos, e muitos mais “armos”. A oportunidade de deixar o que nos aperta o coração e mente sair através do sofrer para abrir espaço para lembrar as coisas boas que nos lembra quem esteve/está a sofrer.

Com a ajuda da estória da Raposa, a linda e cor de laranja raposa, penso que ficaram a sentir de forma diferente, não sei se melhor, mas diferente o momento.

Em relação à criança indignada, fiquei preocupado. Temos muitas crianças que é como quem diz, adultos, que a armadura é tão forte, as crenças que não se chora é tão impregnante, a desvalorização dos opostos é tão desacreditado que… não desprezam a coragem de chorar, o heroísmo de gritar, a unicidade de chamarmos por quem não está e não estará. Preocupa-me que as crianças não saibam sentir a representação da ausência, da recordação que magoa. As crianças andam ocupadas. Estão anestesiadas pelos imensos pseudo-objetivos que lhes criam e nem são deles. Tem malas muito carregadas e não aprender a tirar a mala ou em alternativa, ir tirando pedras de dentro.

Sofrer. Custa. Dói. Corrói. Mas perguntemos-mos: não nascemos a chorar? E se não chorarmos, batem-nos e nem nos podemos defender.

Hoje? Sofram e verão que como nos ensina as estações do ano, todos os cenários tem beleza e sorrisos, não tenhamos nós, a oportunidade de olhar e cheirar um pôr do sol e num outro dia, o nascer do sol.

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